Fraude no INSS

Testemunha acusa Conafer de forjar assinaturas para aplicar descontos indevidos em aposentados

Empresário afirma que documentos foram adulterados digitalmente para transformar pedidos de cancelamento em adesões falsas; operação da PF levou à queda do presidente do INSS e do ministro da Previdência

 

Uma testemunha-chave no caso de fraudes contra aposentados do INSS afirmou que a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer) falsificou documentos para realizar descontos indevidos nos benefícios dos segurados. Segundo os dados, a Conafer foi a instituição que mais ampliou os descontos nos benefícios do INSS entre os anos de 2019 e 2024.

A denúncia foi feita pelo empresário brasiliense Bruno Deitos à Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, em junho de 2021. Ele é proprietário da empresa Premier Recursos Humanos e disse que foi contratado de forma terceirizada pela empresa Target Pesquisas de Mercado. Essa empresa havia sido contratada pela Conafer para realizar uma suposta atualização de cadastro de associados da instituição.

De acordo com Deitos, o contrato dizia que sua empresa atuaria em diversos estados: Distrito Federal, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com base na lista de associados fornecida pela Conafer, os funcionários da Premier — recrutados como promotores de pesquisa — foram pessoalmente aos endereços indicados para colher assinaturas em formulários que, aparentemente, serviriam para excluir a cobrança de mensalidades.

No entanto, em uma reunião, o dono da Target teria afirmado que o único item de interesse era o quadro de assinaturas. Isso porque, segundo o relato, ele contrataria uma empresa especializada em alterar documentos em formato PDF, com o objetivo de transformar os formulários de exclusão em formulários de adesão. A fraude teria resultado na produção de um arquivo digital com 28,7 mil fichas falsas, mas com assinaturas verdadeiras dos segurados.

Bruno também contou à polícia que nunca recebeu pagamento pelo serviço prestado. Ao cobrar o valor devido, disse ter sido ameaçado pelo irmão do presidente da Conafer, Tiago Ferreira Lopes.

Em outro depoimento no mesmo mês, Bruno afirmou que ouviu o presidente da Conafer dizer, em reunião, que “tinha domínio sobre os diretores do INSS”, sem especificar quais seriam esses diretores. A informação foi revelada em reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, nesta quinta-feira (15).

Os documentos que comprovam as denúncias feitas por Bruno Deitos foram enviados pela Polícia Civil à Polícia Federal (PF) e anexados ao inquérito que investiga o esquema. A operação da PF que mira as fraudes foi iniciada em abril deste ano. A repercussão foi grande e resultou na saída do então ministro da Previdência, Carlos Lupi, e do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

Procurada pela TV Globo, a Conafer informou que está à disposição das autoridades e se colocou como colaboradora nas investigações. A reportagem não conseguiu contato com representantes da empresa Target Pesquisas de Mercado, nem com os outros nomes citados nos depoimentos.

Como forma de garantir transparência e proteger os beneficiários, a partir desta quarta-feira (14), o INSS disponibiliza dois canais para que aposentados e pensionistas verifiquem descontos em seus benefícios: o site e o aplicativo Meu INSS, além da central telefônica 135. Por meio desses canais, é possível consultar qual associação realizou o desconto e o valor correspondente.

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